domingo, 21 de setembro de 2014

Aluizo e Merença



Aluizo e Merença



Em um parquinho chamado Araruama conheceram-se os dois ratinhos. Faziam presença pelo parquinho correndo entres dálias e crisântemos; magnólias e rosas; cravos e cravinhos. Desde pequenos já corriam por ruas e valas do parquinho, crescendo e aprendendo com atitudes suspeitas, como dois ratinhos, e bem safadinhos. 

Com um cravo roubado na praça e preso na lapela, foi com Merença se casar. Com um lenço e pregadores na cabeça vindo do varal alheio, emprestados e não devolvidos, ela resolveu aceitar. Montaram sua casinha com o faqueiro e a faiança da vizinha. Perderam a confiança da vovó e da vovozinha. Tiveram filhos e filhas, inhas e inhos.

Evoluíram e construíram uma boa casa em uma baixada. Com gatos na luz e na água puderam ter uma piscina. Muxibenta e com um sutiã rasgado ela tomava banho e caldo na piscina. Enquanto ele ia tomar cachaça e fofocar no bar da esquina. Nobres e cultos que eram, ficavam e estavam bem informados com as noticias do Brasil e do mundo. Todos os dias e todas as semanas, com jornais e revistas de assinantes, surrupiados de vizinhos.  Com TVs a gato e Gato Net tinham acessos a mídias televisivas.

Aluizo teve uma infância vigiada e controlada. Vestido de camisola ficava em casa preso para não fugir. Como um ratinho bonitinho e santinho, preso e correndo em seus brinquedos de gaiola, vestido com uma camisola da irmãzinha, a tia chester.

Aluizo e Merença eram uns promissores, um casal de roedores. Roedores que reviravam casas na ausência de seus moradores. Mexiam desde as geladeiras e armários procurando guloseimas para comer avidamente, mexiam em armários e estantes procurando estratégias e estratagemas.  Estratagemas que pudessem sair cantando, espalhando entre as flores do parquinho. Cantando e fofocando pelas ruas como canta o bem-te-vi. 

Seguiram o exemplo de sua mãe e seu pai. Tornaram-se dona de casa e navegador, exímios fofoqueiros e vigiadores da vida alheia. Corriam para lá e para cá em um barquinho pelas águas da Guanabara, em barquinho a motor. E com um Gordini velho no parquinho se dizia senador, tomando aguardente velha e cerveja quente no barzinho bem retrô.

Desde pequenininha Merença frequentava o parquinho, para ficar em um balanço quando Aluizo aparecia para embalar. Estavam ali pra ver e amostrar o que Merença tinha debaixo do shortinho. O shortinho para disfarçar o que era uma sainha bem curtinha, que no balanço, ao balançar para lá e para cá mostrava a calcinha. Calcinha suja de barro vermelho, vindo lá de outras bandas onde nasceu.

Com seu barquinho saiam e saíam para navegar, onde desde cedo aprenderam coisas do arco da velha com óleos de motor. Puxando barcaças de óleo tornou-se corretor, de óleo adulterado e de óleo barganhado, óleos não embarcados. Como dois ratinhos experientes atracavam e abandonavam rapidamente o barquinho, ao ouvir a sirene dos barcos vigilantes. 

Enquanto ela fez perfil em rede social, ele fez perfil de quem não vale nada, usando de suas próprias palavras. Fizeram perfil e carreira de aproveitadores de filhos. Aprendeu a consertar maquina de lavar, desmontar e montar carros. Enquanto ela aprendeu a fazer comida em ‘pirek’ e ‘marineck’ dos outros. Torceram ‘pro framengo’ na geral do Maracanã.

RJ 21/09/2014


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